quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A UTILIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS PARA A INCLUSÃO SOCIAL E A FORMAÇÃO DE CIDADÃOS

 Resenha crítica do artigo: OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Princípios pedagógicos na educação de jovens e adultos. 16 p.

O artigo “Princípios Pedagógicos na Educação de Jovens e Adultos” apresenta como tema central as peculiaridades da EJA e os princípios pedagógicos inerentes a esta modalidade de ensino com base no pensamento educacional de Paulo Freire e em documentos oficiais legais. Ivanilde Apoluceno de Oliveira, autora da obra, é doutora em educação pela PUC-SP e tem vários livros e artigos publicados, como o livro “Saberes, Imaginários e Representações na Educação Especial” e o artigo “A Cultura Amazônica em Práticas Pedagógicas de Educadores Populares”.
No presente artigo a autora defende que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) atende a um perfil específico de aluno, que possui necessidades e características que devem ser levadas em consideração no processo educativo. Estes alunos são jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à escola na faixa etária da escolarização (dos 07 aos 14 anos), ou foram “evadidos” ou “expulsos” da escola.
Assim, cada um destes três grupos de alunos (jovens, adultos e idosos) possui uma visão de mundo distinta, pois o jovem está ligado às inovações tecnológicas, aos modismos, às mudanças que ocorrem no mundo; o adulto visa ser inserido no mercado de trabalho; e o idoso busca ser cidadão, vivendo na sociedade com dignidade. Geralmente os alunos são de classe economicamente baixa, muitas vezes sendo considerados “incapazes de aprender” e “analfabetos”. Desta forma, isto revela a relação de poder entre os escolarizados e os não-alfabetizados, construída através da discriminação e exclusão.
Através da lógica da racionalização dos recursos, a sociedade contemporânea foca na educação da criança, pois esta possui uma perspectiva de futuro, já que está em desenvolvimento bio-psico-soicial, deixando em segundo plano a educação de jovens e adultos. Porém, o ser humano é inacabado e incompleto, que busca no conhecimento seu aprimoramento, precisando dialogar, questionar, ter curiosidade, sonhar, interagir com sua realidade, transformando-a e esta o transformando.
A educação é considerada como uma estimuladora do diálogo, da curiosidade, do ato de perguntar, da articulação dos saberes, que possibilita a reflexão da condição de excluído e a luta pela sua liberdade, sendo um exercício da cidadania, já que é um direito. Desta forma, a educação de jovens e adultos está no cerne do debate sobre a exclusão social e da questão da democratização do ensino.
Para se ofertar o saber escolar são ofertados cursos regulares presenciais e a distância e exames supletivos, feita por instituições de ensino públicas ou privadas credenciadas. Os jovens e adultos devem ser maiores de 15 anos para a conclusão do ensino fundamental e maiores de 18 anos para a conclusão do ensino médio. É necessário que esta educação considere as necessidades e incentive as potencialidades dos educandos, promova a autonomia e seja vinculada ao mundo do trabalho.
São atribuídas à educação de jovens e adultos as funções de: restaurar um direito que foi negado, igualar as oportunidades de acesso e permanência na escola, e viabilizar a atualização permanente de conhecimentos e aprendizagens contínuas. Sendo necessário destacar a necessidade de formulação de projetos pedagógicos próprios e específicos para a EJA, que levem em consideração o perfil e as condições de vida do aluno, suas necessidades e disponibilidades, e sua experiência extra-escolar.
A prática educativa de jovens e adultos deve ser desenvolvida tendo como base o diálogo, o trabalho dos conteúdos escolares a partir da realidade social do aluno, a criação de situações variadas de aprendizagem e o desenvolvimento de técnicas diversificadas.
A democratização escolar precisa ser ampliada, não ficando restrita ao acesso a escola, mas que esses jovens e adultos das classes populares sejam efetivamente participantes do processo de construção do saber e da escola. E esta, deve ter sua prática educativa dialógica e solidária, possibilitando a formação e o desenvolvimento dos educandos como seres humanos e cidadãos.
A autora deixa claro que através de práticas excludentes da escola e da sociedade, ocorreu um processo de evasão, marginalização e exclusão das pessoas, que deixaram de usufruir do conhecimento escolar e passaram a ser vistas como incapazes. A escola tende a ser excludente porque está em uma sociedade excludente, norteada por preconceitos e relações de poder, tendendo a reproduzir as diferenças sociais.
O amplo acesso ao ensino, garantido por lei, culpabilizou o sujeito pelo seu “fracasso escolar”, porém além da dificuldade de acesso, outros fatores influenciam na não permanência e “fracasso escolar”, como a homogeneização dos indivíduos, sem considerar as diferenças existentes entre os mesmos. Desta forma, quem não consegue alcançar o “padrão ideal” de aprendizagem, qualidade de vida ou posição na sociedade, é considerado incapaz, incompetente e inferior.
A tentativa da escola e da sociedade de igualar a todos não considera o contexto em que o indivíduo está inserido e este, injustamente, é marginalizado. Se o individualismo não fosse predominante, haveria uma sensibilidade para as condições existenciais das pessoas, pois a escola e a sociedade são compostas por pessoas com características e condições de vida diferentes, e não por “pessoas-produto”, com um padrão em que todos devem e conseguem seguir.
A EJA foi criada como uma maneira de corrigir este processo exclusivo. Ao se trabalhar com planejamento específico para estes alunos, tem-se como resultado o “sucesso escolar”, pois se utiliza um caminho diferenciado para se chegar a um objetivo em comum, que consegue ser alcançado. Desta forma, estes alunos passam a ter as mesmas oportunidades de crescimento profissional que os alunos formados em idade convencional.
Para que a EJA seja eficiente é preciso utilizar materiais didáticos adequados para a faixa etária dos alunos, abordar conteúdos com significado, não se utilizar metodologias infantilizadas e respeitar a rotina dos alunos que trabalham e estudam, com a proposta de horário adequado para as aulas. Se estes parâmetros não forem seguidos, haverá novamente um processo de marginalização, e estes alunos não conseguirão permanecer na escola e concluir seus estudos.
A educação de jovens e adultos deve ser vista não apenas como uma forma de diminuir os índices de analfabetismo e impulsionar o desenvolvimento do país, mas tendo como objetivo maior a formação de pessoas que terão ferramentas para exercer sua cidadania e serem reconhecidas como cidadãs na sociedade.
Diante do que foi discutido pode-se dizer que o processo de construção do saber é muito complexo e influenciado por vários fatores, tanto pessoais quanto sociais. A educação de jovens e adultos é o primeiro passo para oportunidade de formação de cidadãos e a inclusão dos mesmos, possibilitando o reconhecimento social. Para se ter êxito neste processo, deve-se considerar as peculiaridades destes alunos, de modo a garantir condições e metodologias adequadas para a construção do conhecimento, e assim alcançar o “sucesso escolar”.


Referências Bibliográficas:

ESCOBAR, Tatiana Pires; BONETTI, Lindomar Wessler. Mecanismos de exclusão social no sistema escolar. IX Congresso Nacional de Educação. III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia. PUC-PR. Outubro de 2009.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Salto para o futuro: Educação ao longo da vida. Rio de Janeiro. TV escola. Nº 11. Setembro de 2009.

SILVA, Fernanda Maria da; BARBOSA, Marina Andretta; UYTDENBROEK, Xavier. A função social da escola na educação de jovens e adultos. Escola: Pra quê te querem?.

CARDOSO, Jaqueline; FERREIRA, Maria José de Resende. Inclusão e exclusão: o retorno e a permanência dos alunos na EJA. Debates em Educação Científica e Tecnológica. V. 02, nº. 2, p. 61 a 76, 2012.

Espero que gostem, e espero comentários.......

Um comentário:

  1. Olá, que blog legalzaço!!! queria sugerir textos menos longos ou intercalados com algum boxe talvez..só pra prender o leitor...

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