quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A utilização de estratégias para a elaboração e aplicação do currículo escolar de forma eficiente

A elaboração e o planejamento do currículo escolar, e a forma que o mesmo será trabalhado, é de extrema importância para se alcançar uma aprendizagem significativa. Este currículo deve considerar as características dos alunos atendidos pela escola, visando à criação de novas estratégias e metodologias de ensino e aprendizagem, bem como a promoção de interação escola-aluno, aluno-aluno e professor-aluno, com a finalidade de garantir condições favoráveis à aprendizagem.
Para alcançar tais objetivos pode-se recorrer à utilização de algumas estratégias no planejamento e aplicação do currículo, como a utilização da interdisciplinaridade, contextualização, significação conceitual e dramatização dos conteúdos. Estas estratégias têm como objetivo principal facilitar a aprendizagem dos conteúdos científicos pela vinculação com a realidade do aluno, apresentação de problemas, utilização de conceitos de diversas áreas do conhecimento para explicar um determinado fenômeno, e por aproximar um conteúdo científico da realidade do aluno, dando-lhe sentido.
A interdisciplinaridade possibilita a explicação de um determinado fenômeno por várias áreas do conhecimento. Isto favorece a aprendizagem na medida em que desfragmenta os conteúdos, fazendo com que o aluno perceba relações de dependência entre várias disciplinas, e consequentemente a aprendizagem é facilitada. O olhar separatista entre as disciplinas não proporciona a aprendizagem de conceitos que se encaixam em várias áreas do conhecimento, uma vez que o aluno tem que assimila-los com diferentes aplicações e definições que poderiam ser entrelaçadas.
A contextualização dos temas abordados no processo de aprendizagem é de suma importância para tornar o conteúdo significativo, uma vez que através da contextualização o conteúdo é trazido para a realidade do aluno. O não distanciamento do conteúdo com o dia-a-dia do aluno torna possível a significação e fixação do mesmo, proporcionando uma aprendizagem significativa.
Quando se aborda conteúdos embasados na significação conceitual, faz-se que os conceitos que antes eram vistos como puramente científicos e inacessíveis à realidade dos alunos, tenham significado, façam sentido. Quando o aluno descobre que os conhecimentos científicos se aplicam e justificam fenômenos cotidianos, a construção do conhecimento ocorre de forma espontânea e concreta.
A dramatização dos conteúdos é o ato de criar situações em que o conteúdo científico pode ter seus conceitos esclarecidos por meio de situações concretas. Isto torna os conceitos científicos concretos, visto que podem ser usados em situações cotidianas. Quando se cria uma situação-problema se promove a possibilidade da resolução da mesma por meio da discussão e debate de possibilidades de aplicação de conceitos teóricos, proporcionando ao aluno o entendimento dos conceitos por completo, e afirmando que existe um “porque” para se estudar determinados conteúdos.
Ao se organizar e aplicar um currículo escolar embasado nestas estratégias tem-se resultados satisfatórios, visto que o entrelace destas estratégias, ou seja, a utilização das mesmas em conjunto, favorece a construção do conhecimento e torna a escola um local não mais chato e que se frequente por obrigação, mais um lugar de relações pessoais positivas e construção de cidadãos.
Assim, é possível chegar ao “sucesso escolar” e tornar a aprendizagem cada vez mais significativa. É necessário se atentar para as características do público atendido pela escola para se elaborar um currículo escolar eficiente, sendo de suma importância o envolvimento de toda comunidade escolar no processo de planejamento e confecção do mesmo. Com todos compartilhando o mesmo objetivo o processo de aprendizagem, que é complexo e influenciado por vários fatores, é facilitado.

Referências bibliográficas:
HALMENSCHLAGER, Karine Raquiel. Problematização no ensino de ciências: uma análise da situação de estudo. Espírito Santo.
__________SOUZA, Carlos Alberto. Abordagem temática: uma análise dos aspectos que orientam a escolha de temas na situação de estudo. Investigação em Ensino de Ciências. V.17, 2012.
GERHARD, Ana Cristina; ROCHA FILHO, João Bernardes da. A fragmentação dos saberes na educação científica escolar na percepção de professores de uma escola de ensino médio. Investigação em Ensino de Ciências. V.17, 2012.
CARLOS, Jairo Gonçalves. Interdisciplinaridade: o que é isso?. Interdisciplinaridade no ensino médio: desafios e potencialidades. 10 p.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A UTILIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS PARA A INCLUSÃO SOCIAL E A FORMAÇÃO DE CIDADÃOS

 Resenha crítica do artigo: OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Princípios pedagógicos na educação de jovens e adultos. 16 p.

O artigo “Princípios Pedagógicos na Educação de Jovens e Adultos” apresenta como tema central as peculiaridades da EJA e os princípios pedagógicos inerentes a esta modalidade de ensino com base no pensamento educacional de Paulo Freire e em documentos oficiais legais. Ivanilde Apoluceno de Oliveira, autora da obra, é doutora em educação pela PUC-SP e tem vários livros e artigos publicados, como o livro “Saberes, Imaginários e Representações na Educação Especial” e o artigo “A Cultura Amazônica em Práticas Pedagógicas de Educadores Populares”.
No presente artigo a autora defende que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) atende a um perfil específico de aluno, que possui necessidades e características que devem ser levadas em consideração no processo educativo. Estes alunos são jovens, adultos e idosos que não tiveram acesso à escola na faixa etária da escolarização (dos 07 aos 14 anos), ou foram “evadidos” ou “expulsos” da escola.
Assim, cada um destes três grupos de alunos (jovens, adultos e idosos) possui uma visão de mundo distinta, pois o jovem está ligado às inovações tecnológicas, aos modismos, às mudanças que ocorrem no mundo; o adulto visa ser inserido no mercado de trabalho; e o idoso busca ser cidadão, vivendo na sociedade com dignidade. Geralmente os alunos são de classe economicamente baixa, muitas vezes sendo considerados “incapazes de aprender” e “analfabetos”. Desta forma, isto revela a relação de poder entre os escolarizados e os não-alfabetizados, construída através da discriminação e exclusão.
Através da lógica da racionalização dos recursos, a sociedade contemporânea foca na educação da criança, pois esta possui uma perspectiva de futuro, já que está em desenvolvimento bio-psico-soicial, deixando em segundo plano a educação de jovens e adultos. Porém, o ser humano é inacabado e incompleto, que busca no conhecimento seu aprimoramento, precisando dialogar, questionar, ter curiosidade, sonhar, interagir com sua realidade, transformando-a e esta o transformando.
A educação é considerada como uma estimuladora do diálogo, da curiosidade, do ato de perguntar, da articulação dos saberes, que possibilita a reflexão da condição de excluído e a luta pela sua liberdade, sendo um exercício da cidadania, já que é um direito. Desta forma, a educação de jovens e adultos está no cerne do debate sobre a exclusão social e da questão da democratização do ensino.
Para se ofertar o saber escolar são ofertados cursos regulares presenciais e a distância e exames supletivos, feita por instituições de ensino públicas ou privadas credenciadas. Os jovens e adultos devem ser maiores de 15 anos para a conclusão do ensino fundamental e maiores de 18 anos para a conclusão do ensino médio. É necessário que esta educação considere as necessidades e incentive as potencialidades dos educandos, promova a autonomia e seja vinculada ao mundo do trabalho.
São atribuídas à educação de jovens e adultos as funções de: restaurar um direito que foi negado, igualar as oportunidades de acesso e permanência na escola, e viabilizar a atualização permanente de conhecimentos e aprendizagens contínuas. Sendo necessário destacar a necessidade de formulação de projetos pedagógicos próprios e específicos para a EJA, que levem em consideração o perfil e as condições de vida do aluno, suas necessidades e disponibilidades, e sua experiência extra-escolar.
A prática educativa de jovens e adultos deve ser desenvolvida tendo como base o diálogo, o trabalho dos conteúdos escolares a partir da realidade social do aluno, a criação de situações variadas de aprendizagem e o desenvolvimento de técnicas diversificadas.
A democratização escolar precisa ser ampliada, não ficando restrita ao acesso a escola, mas que esses jovens e adultos das classes populares sejam efetivamente participantes do processo de construção do saber e da escola. E esta, deve ter sua prática educativa dialógica e solidária, possibilitando a formação e o desenvolvimento dos educandos como seres humanos e cidadãos.
A autora deixa claro que através de práticas excludentes da escola e da sociedade, ocorreu um processo de evasão, marginalização e exclusão das pessoas, que deixaram de usufruir do conhecimento escolar e passaram a ser vistas como incapazes. A escola tende a ser excludente porque está em uma sociedade excludente, norteada por preconceitos e relações de poder, tendendo a reproduzir as diferenças sociais.
O amplo acesso ao ensino, garantido por lei, culpabilizou o sujeito pelo seu “fracasso escolar”, porém além da dificuldade de acesso, outros fatores influenciam na não permanência e “fracasso escolar”, como a homogeneização dos indivíduos, sem considerar as diferenças existentes entre os mesmos. Desta forma, quem não consegue alcançar o “padrão ideal” de aprendizagem, qualidade de vida ou posição na sociedade, é considerado incapaz, incompetente e inferior.
A tentativa da escola e da sociedade de igualar a todos não considera o contexto em que o indivíduo está inserido e este, injustamente, é marginalizado. Se o individualismo não fosse predominante, haveria uma sensibilidade para as condições existenciais das pessoas, pois a escola e a sociedade são compostas por pessoas com características e condições de vida diferentes, e não por “pessoas-produto”, com um padrão em que todos devem e conseguem seguir.
A EJA foi criada como uma maneira de corrigir este processo exclusivo. Ao se trabalhar com planejamento específico para estes alunos, tem-se como resultado o “sucesso escolar”, pois se utiliza um caminho diferenciado para se chegar a um objetivo em comum, que consegue ser alcançado. Desta forma, estes alunos passam a ter as mesmas oportunidades de crescimento profissional que os alunos formados em idade convencional.
Para que a EJA seja eficiente é preciso utilizar materiais didáticos adequados para a faixa etária dos alunos, abordar conteúdos com significado, não se utilizar metodologias infantilizadas e respeitar a rotina dos alunos que trabalham e estudam, com a proposta de horário adequado para as aulas. Se estes parâmetros não forem seguidos, haverá novamente um processo de marginalização, e estes alunos não conseguirão permanecer na escola e concluir seus estudos.
A educação de jovens e adultos deve ser vista não apenas como uma forma de diminuir os índices de analfabetismo e impulsionar o desenvolvimento do país, mas tendo como objetivo maior a formação de pessoas que terão ferramentas para exercer sua cidadania e serem reconhecidas como cidadãs na sociedade.
Diante do que foi discutido pode-se dizer que o processo de construção do saber é muito complexo e influenciado por vários fatores, tanto pessoais quanto sociais. A educação de jovens e adultos é o primeiro passo para oportunidade de formação de cidadãos e a inclusão dos mesmos, possibilitando o reconhecimento social. Para se ter êxito neste processo, deve-se considerar as peculiaridades destes alunos, de modo a garantir condições e metodologias adequadas para a construção do conhecimento, e assim alcançar o “sucesso escolar”.


Referências Bibliográficas:

ESCOBAR, Tatiana Pires; BONETTI, Lindomar Wessler. Mecanismos de exclusão social no sistema escolar. IX Congresso Nacional de Educação. III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia. PUC-PR. Outubro de 2009.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Salto para o futuro: Educação ao longo da vida. Rio de Janeiro. TV escola. Nº 11. Setembro de 2009.

SILVA, Fernanda Maria da; BARBOSA, Marina Andretta; UYTDENBROEK, Xavier. A função social da escola na educação de jovens e adultos. Escola: Pra quê te querem?.

CARDOSO, Jaqueline; FERREIRA, Maria José de Resende. Inclusão e exclusão: o retorno e a permanência dos alunos na EJA. Debates em Educação Científica e Tecnológica. V. 02, nº. 2, p. 61 a 76, 2012.

Espero que gostem, e espero comentários.......

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resenha do capítulo II e III do livro Filosofia da Educação (Cipriano Luckesi)


LUCKESIC. C. . Filosofia da Educação. 21. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1990. 181p .

Tendências educacionais e suas distintas formas e consequências de educar

O autor Cipriano Luckes é Doutor em Educação: História, Política, Sociedade, e escreveu vários livros como: “Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceito e recriando a prática” e “Equívocos teóricos na prática educativa”. O capítulo dois do livro “Filosofia da educação”, intitulado “Educação e sociedade: redenção, reprodução e transformação”, trás uma reflexão a respeito da compreensão da educação e do seu direcionamento dentro da sociedade. Já o capítulo três, intitulado “Tendências pedagógicas na prática escolar”, relata as concepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, aborda as tendências teóricas que visão a compreensão e orientação da prática educacional ao longo da história humana.
Existem três tendências filosófico-políticas para compreender a Educação, que se constituíram ao longo da prática educacional. Estas tendências podem ser compreendidas a partir dos seguintes conceitos: educação como redenção; educação como reprodutora; e educação como um meio de transformação da sociedade.
A tendência redentora concebe a sociedade como um conjunto de seres humanos que vivem e sobrevivem em um todo orgânico e harmonioso, com desvios de grupos e indivíduos que ficam à margem desse todo. Cabe a educação, como instância social, estabelecer como redentora da sociedade, integrando harmoniosamente os indivíduos no todo social já existente.
A educação, nesse sentido, tem por significado e finalidade a adaptação do indivíduo à sociedade. Em vez de receber as interferências da sociedade, é ela que interfere, quase que de forma absoluta, nos destinos do todo social,curando-o de suas mazelas.
A tendência reprodutivista afirma que a educação faz, integralmente, parte da sociedade e a reproduz. Esta tendência é crítica e não se traduz em uma pedagogia, não estabelecendo um modo de agir para a educação, apenas demonstra como atua a educação dentro da sociedade e não como ela deve atuar. 
A educação redentora atua na sociedade como uma instância corretora dos seus desvios, já a educação reprodutivista é um elemento da própria sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos. Assim, o poder dominante é tão forte na sociedade, que não há possibilidade nenhuma para a escola de trabalhar pela sua transformação.
A terceira tendência compreende a educação como mediação de um projeto social, servindo de meio para realizar um projeto de sociedade; projeto que pode ser conservador ou transformador. Assim, compreende-se a educação dentro da sociedade, com seus condicionantes e determinantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização.
É possível traduzir as tendências redentora e transformadora em pedagogia liberal e progressista, respectivamente. Estas pedagogias possuem subgrupos de acordo com suas finalidades sociais. A pedagogia liberal tem como subgrupo: tradicional, renovada progressista, renovada não-diretiva, e tecnicista. E a pedagogia progressista possui os subgrupos: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos.
A pedagogia liberal é baseada na doutrina liberal, que fundou-se como justificação do sistema capitalista, defendendo a liberdade e os interesses individuais da sociedade como predominância, estabelecendo a sociedade de classes. Assim, a escola deve preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, visto que os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura individual.
A tendência liberal tradicional defende a preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. Os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas são os seus conteúdos, repassados ao aluno como verdade. Estes conteúdos são separados da experiência dos alunos e das realidades sociais, sendo enciclopédico. O professor tem autoridade sobre os alunos e é apenas um transmissor de conteúdo.
A tendência liberal renovada progressivista defende que o papel da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social, devendo organizar-se de forma a retratar a vida. O importante é o processo de aquisição do saber, e não o saber propriamente dito. Valoriza as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas. O desenvolvimento mental tem como condição básica o trabalho em grupo e o professor tem função de auxiliador do desenvolvimento livre e espontâneo.
A tendência liberal renovada não-diretiva afirma que o papel da escola é importante na formação de atitudes, portanto deve estar focada nos problemas psicológicos, e secundariamente nos problemas pedagógicos e sociais, estabelecendo um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo. O professor atua como facilitador tendo em vista uma educação centrada no aluno, visando formar sua personalidade através da vivência de experiências significativas.
A tendência liberal tecnicista afirma que a escola atua como modeladora do comportamento humano, através de técnicas específicas. A educação escolar deve organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. Tendo em vista o desenvolvimento de indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, a matéria de ensino é o redutível ao conhecimento observável e mensurável, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno.
A pedagogia progressista parte de uma análise crítica das realidades sociais, sustentando implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. Portanto, não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista.
A tendência progressista tem como sua marca à atuação “não formal” em vez do ensino escolar. A educação é uma atividade onde os professores e alunos atingem um nível de consciência da realidade que apreendem, a fim de nela atuarem, num sentido de transformação social. A educação libertadora ainda questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação. O professor tem papel de animador, que deve “descer” ao nível dos alunos, adaptando-se às suas características e ao desenvolvimento próprio de cada grupo.
A pedagogia libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. Tendo um sentido expressamente político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo. Visa "em primeiro lugar”, transformar a relação professor-aluno no sentido da não-diretividade, isto é, considerar desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base de obrigações e “ameaças". Embora professor e aluno sejam diferentes, nada impede que o professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções e idéias, sem transformar o aluno em “objeto". O professor é um orientador e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum.
Para a tendência progressista “crítico social dos conteúdos” a escola tem como papel principal a difusão de conteúdos indissociáveis das realidades sociais. Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. O professor é visto como um mediador, e o aluno, com sua experiência imediata num contexto cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la com os conteúdos e modelos expressos pelo professor.
Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. Desta forma, a atuação da escola consiste na preparação do aluno para, o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Portanto aprender é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente, organizando os dados disponíveis da experiência.
Diante do que foi apresentado, cada profissional da educação deve escolher criticamente qual tendência irá orientar seu trabalho. Pois a ausência de posicionamento faz com que o profissional seja refém da opinião de quem se posicionou. A escola não está em uma ilha isolada da sociedade, portanto sofre influências da mesma. Quando se trata da sociedade sob regime capitalista, estas influências tem como interesse favorecer o crescimento econômico através do crescimento do setor produtivo.
Assim é inegável que há influências sociais na educação, porém há possibilidades de a educação interfira na sociedade ao formar pessoas que não sejam alienadas. Ou seja, formar cidadãos que tenham olhar crítico sobre a sociedade e malícia para perceber os interesses que estão por trás das atitudes das classes dominantes. É impossível atribuir à educação o poder de mudar a sociedade, pois a escola é direcionada e mantida pelas classes dominantes da sociedade, sendo uma reprodução do meio em que está inserida. Porém é possível que cada profissional da educação se posicione para que não forme pessoas com uma visãi limitada de mundo, sem senso crítico, é preciso tendência liberal tradicional ampliar o horizonte dos alunos através de uma prática docente diferenciada.
As várias tendências pedagógicas refletem os vários estágios de transformação da sociedade. Desde a necessidade de pessoas que não tinham senso crítico à pessoas que necessitam dominar as ferramentas da sociedade moderna, portanto a escola sempre supriu as necessiades da sociedade, principalmente do mercado de trabalho, através da formação de pessoas que apresentavam um modelo de pensamento e atitudes que a favorecesse. Segundo Frigotto (2003, p. 26),
Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital.

Assim, sempre houve interesses econômicos inseridos nos modelos de educação. Apesar de a sociedade ter mudado, atualmente a maioria dos setores de ensino seguem o modelo da tendência liberal tradicional, o que é improprio quando se objetiva o desenvolvimento das potencialidades intelectuais e psicosociais dos indivíduos. Esta tendência é equivocadamente utilizada por atribuir poderes ao professor e ver o aluno como um ser inferior, que deve aceitar todos os conhecimentos transmitidos pelo professor sem questioná-los, formando pessoas acriticas e sem conhecimentos aprendidos, apenas reproduzidos.
A antipatia pela tendência progressista “crítico social dos conteúdos” se deve ao fato de que o professor passa a ser um mediador e não alguém que está acima do aluno. É preciso que os professores percam o medo de se colocar ao mesmo nível do aluno, sem autoritarismo para exigir que os alunos se adequem ao seu ponto de vista, a sua visão de mundo. É necessário respeitar as individualidades de cada aluno, seu tempo de assimilação dos conhecimentos apresentados, sua opinião. Tendo o professor papel de orientador, visando a construção do conhecimento norteado por debates, pelo confronto da realidade do aluno com os conteúdos apresentados, para que o aluno tenha condições de transformar seu mundo, de ter visão crítica sobre os acontecimentos da sociedade.
Assim, não se pode mudar a sociedade apenas com a educação, porém a mesma possui capacidade de formar pessoas que tenham pensamentos e opiniões distintos do todo social, mudando sua microsociedade, ou seja, o meio que as cerca. Pois ao sair da escola o aluno terá que enfrentar os desafios impostos pela sociedade, portanto deverá ser preparado para isso, tendo em vista o papel da escola de educadora e não apenas de ensinar conteúdos. Desta forma, a escola tem papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo, preparando-o para a vida.

Referências bibliográficas:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=W06411> Acessado em 10 de Abril de 2013
KUENZER, Acácia Zeneida. Pedagogia da Fábrica. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LUCKESI, C. C. . Filosofia da Educação. 21. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1990. 181p .
FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação como campo social de disputa hegemônica. In: Educação do capitalismo real. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 25-40.
EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In: Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.

Autora: Lis Peixoto Rocha.
Espero que gostem.....aguardo comentários!!!

Resenha do capítulo II do livro Política educacional (Olinda Evangelista)


EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In: Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.

Intervenções educacionais para favorecer as elites

O capítulo dois, intitulado “Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990”, do livro “Política Educacional”, faz alusão às reformas políticas propostas durante os anos de 1990, com a finalidade de alavancar a economia. O livro foi escrito por Olinda Evangelista, doutora em Educação: História, Política, Sociedade, pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo (1997). A mesma é autora de muitos livros, como “Escola viva”, “Questões de teoria e método em pesquisa educacional” e “Formação de professores: perspectivas educacionais e curriculares”.
Os governantes dos anos de 1990 estruturaram uma contrarevolução nas esferas social, política e ideológica, para recuperar-se da crise dos anos de 1980. A situação nacional poderia ser comparada ao governo Thatcher, na Inglaterra, que denegriu os valores que prevaleciam no país, relacionados às políticas que favoreciam a população. Aconteceram transformações que produziram prejuízos imensos na sociedade britânica, onde o nível de vida é incomparavelmente mais sólido e elevado que no Brasil.
A hegemonia conservadora era evidenciada pela atmosfera política, científica e cultural, em que desqualificava “velhos” ideais e valores, vistos como utopias, não levando em conta a realidade da vida econômica marcada pela concorrência, forças de mercado e desemprego estrutural. Assim, forma-se um consenso segundo o qual é inútil opor-se às mudanças, pois geraria profundas transformações no sentido da população, que rendeu-se a realidade da dura economia.
Este movimento de retração ideológica teve sucesso, ganhando expressão nos jornais sensacionalistas e em instituições sociopolíticas e culturais. Neste contexto, para eliminar eventuais resistências, o poder hegemônico conservadorista utilizou a visão de que o acomodamento político e eleitoral diante às regras do jogo vigente trás virtude e sabedoria.
Fernando Collor implantou o modelo Thatcher no Brasil, não inserindo o país na economia mundial, tendo amargos resultados. Existia uma sintonia entre a exaltação às forças de mercado e suas ressonâncias nas práticas educativas. De fato, com Collor houve um atraso no ajuste da economia brasileira às exigências da economia global.
Deste modo, em muitos setores os produtos nacionais não conseguiram concorrer com os estrangeiros dentro do país. Na busca por vantagens competitivas, alegava-se que ara necessário requisitos distintos de educação geral e qualificação profissional dos trabalhadores. Iniciou-se uma polêmica sobre o processo de utilização dos avanços da tecnologia em todas as esferas, disseminando-se a ideia de que seria necessário dominar os códigos da modernidade.
Atribuiu-se à educação o pilar de sustentação da competitividade nos anos de 1990. Documentações com soluções para os países da América Latina e Caribe, com relação à economia e à educação, influenciaram na definição de políticas públicas para a educação no Brasil.
Este ideário teve início no governo de Itamar Franco com a elaboração do Plano Decenal, mas se concretizou no governo FHC. Numerosas publicações de organismos multilaterais de empresários e intelectuais tornaram estes arautos das reformas que se efetivariam no país.
A conferência mundial de educação para todos aconteceu em 1990, onde foi assinada uma declaração por 155 governadores assegurando educação básica de qualidade para crianças, jovens e adultos.
Havia milhões de crianças fora da escola e adultos analfabetos no mundo. Quando o projeto foi assinado, tinha como meta usar a educação para realizar as necessidades básicas de aprendizagem.
A educação básica passou a englobar, além da educação escolar, a educação familiar, da comunidade e dos meios de comunicação. Foi estabelecido que de acordo com as diferentes necessidades dos alunos, deveriam ser usados diferentes conteúdos, meios e modalidades de ensino e aprendizagem. A educação foi usada para negociações entre diferentes forças políticas e econômicas como forma de promovê-la.
O documento econômico da CEPAL, em 1990, alterou a implementação das mudanças educacionais demandadas pela reestruturação produtiva em curso, onde os países deveriam oferecer os conhecimentos e habilidades específicas requeridas pelo sistema produtivo.
A reforma do sistema produtivo e a difusão de conhecimentos eram vistos como instrumentos cruciais para enfrentar o desafio da construção de uma moderna cidadania e da competitividade. A população deveria aprender os códigos da modernidade, que era o conjunto de conhecimentos e destrezas necessários para participar da vida pública e desenvolver-se produtivamente na sociedade moderna.
O desempenho dos currículos e a eficácia das metodologias aplicadas no processo pedagógico eram avaliados através do domínio dos códigos culturais básicos da modernidade e do desenvolvimento das capacidades humanas para resolver problemas, tomar decisões e seguir aprendendo.
O relatório Delors fez um diagnóstico sobre o atual contexto planetário de interdependência e globalização, no qual reconhece que o ideal de progresso trouxe apenas desilusões à grande parte da população mundial, visto que o desemprego e a exclusão social ocorrem em países ricos, agravando as desigualdades sociais.  
O documento propôs que a tensão entre a vertigem provocada pela mundialização e a necessidade de referências e raízes deveriam ser resolvidas. Neste contexto, a educação teve seus objetivos ampliados e seu potencial superdimensionado. A educação incumbiu-se do desenvolvimento humano sustentável, da compreensão mútua entre os povos, da vivência completa da democracia.
Um novo conceito de educação foi proposto, educação ao longo de toda vida, que explorasse o potencial educativo dos meios de comunicação, da profissão, da cultura e do lazer; construindo uma “sociedade educativa”. Isto seria alcançado a partir do aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver junto.
A educação básica deveria assegurar a base sólida para a aprendizagem futura, já que seria necessário adquirir, atualizar e utilizar os conhecimentos para sobreviver na sociedade da informação ou sociedade cognitiva.
O Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe (PROMEDLAC) conferiu papel central à educação nas novas estratégias de desenvolvimento sustentável, para o crescimento econômico e para a justiça e equidade social.
O Banco Mundial que se constitui como um auxiliar da política externa americana, tendo em vista a existência de um bilhão de pobres no mundo, buscou na educação um sustento para sua política de contenção da pobreza, um “ajuste com caridade”. Havia foco na educação básica, porque através da mesma a pobreza seria reduzida e a produtividade do trabalho dos pobres seria aumentada.
A Carta Educação estabeleceu que devesse haver uma mudança política educacional no Brasil. Buscava-se a adequação dos objetivos educacionais às novas exigências do mercado internacional e interno, e a consolidação do processo de formação do cidadão produtivo.
Durhan, secretária de política educacional do MEC, afirma que as licenciaturas no país estavam falidas, deixando uma enorme lacuna na formação para o magistério. Eram poucas as universidades brasileiras interessadas pela formação de professores, e as que se interessavam, não realizavam a devida integração do conhecimento com o trabalho ensino-aprendizagem.
A Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação sempre defendeu uma formação, sobretudo universitária para os docentes, assegurando a tríplice missão característica desse nível: ensino, pesquisa e extensão. Fica claro então, que a educação continua sendo assunto de Estado, e nenhuma reforma da educação teve êxito contra ou sem professores.
A escola não está em uma ilha isolada da sociedade, portanto sofre influências da mesma. Quando se trata da sociedade sob regime capitalista, estas influências tem como interesse favorecer o crescimento econômico através do crescimento do setor produtivo. 
O interesse do regime capitalista em investir na educação provém da necessidade de suprir a demanda de mão de obra apta a exercer funções na indústria. Assim, a educação sempre foi o campo da disputa hegemônica. Segundo Frigotto (2003, p. 25), “Esta disputa dá-se na perspectiva de articular as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educativos na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da vida social, aos interesses de classe”.
Ao utilizar-se da educação para diminuir os índices de miséria e analfabetismo, o que a sociedade capitalista pretende é garantir consumidores de seus produtos e serviços, além de trabalhadores que atendam suas expectativas. Fica claro então, a necessidade de movimentação da economia através da exploração do trabalhador e da geração de lucro.
Desta forma, Kuenzer (2002, p. 37) argumenta que “no capitalismo, o trabalhador assalariado é a fonte geradora de mais-valia, e nesse sentido, de reprodução das suas próprias condições de exploração, na medida em que, reproduzindo o capital em escala ampliada, reproduz também o operário”.
Quando elabora-se várias medidas para tornar a educação básica sólida e universal, o que se objetiva é a formação de mão de obra “qualificada”. Assim, o trabalhador é desqualificado intelectualmente, há uma exploração do trabalho humano e sua alienação. Desta forma, segundo Frigotto (2003, p. 26)
Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital.

Em nenhum momento se busca o desenvolvimento pessoal e intelectual do indivíduo sem algum interesse lucrativo para a sociedade. A educação sempre foi utilizada para alavancar a economia, tendo em vista a formação de pessoas que suprissem as necessidades da indústria. Não houve preocupação ao longo da história, com o fim da desigualdade social e da miséria, sem objetivações favoráveis às classes mais elevadas.
Assim, segundo Frigotto (2003, p.35),
De forma cada vez mais dissimulada, todavia, o desenvolvimento dos sistemas de ensino solidificaram uma estrutura dualista e segmentada que perdura até o presente, ainda que de forma diferenciada, em contextos específicos nas diferentes formações sociais capitalistas.

Sob a exploração do trabalhador é colocada uma mascara, caracterizando a fábrica como uma grande família feliz. São criadas estratégias para tornar o trabalhador cada vez mais alienado, e segundo Kuenzer (2002, p. 167), “Nesse sentido, elas nada mais são do que formas de manipulação, que tem por objetivo a criação de condições mais favoráveis à explosão, pelo ocultamento das contradições, cuja eclosão é sempre desestabilizadora”.
Pode-se então concluir que é impossível compreender o sistema de ensino de forma isolada, sem analisar o meio em que está inserido, atualmente a sociedade capitalista. Neste contexto, as reformas educacionais tem cunho essencialmente social, que privilegia a burguesia, atenuando a desigualdade social.

Referências bibliográficas:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4790682H7> Acessado em 03 de Abril de 2013

EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In: Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.

KUENZER, Acácia Zeneida. Pedagogia da Fábrica. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.

FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação como campo social de disputa hegemônica. In: Educação do capitalismo real. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 25-40.



Autora: Lis Peixoto Rocha.
Espero que gostem. Aguardo comentários!!!!

terça-feira, 12 de março de 2013

Influências sociais na educação como meio de satisfazer o interesse das elites

 
Influências sociais na educação como meio de satisfazer o interesse das elites
   Ao longo do tempo o processo educacional vem sendo influenciado por acontecimentos na sociedade. Os socialmente influentes criaram medidas para que a educação fosse apenas uma ferramenta que os favorecesse, isto torna-se mais evidente ao se analisar o processo educacional baseado na pedagogia tecnicista.

   As medidas governamentais que atingiram a educação não visavam a formação das capacidades intelectuais dos alunos, mas favorecer o crescimento econômico das elites, satisfazendo as necessidades do setor produtivo, gerando lucro. Isto contribuiu para a limitação do desenvolvimento intelectual das classes operárias, pois apesar de proporcionar a diminuição da miséria pela exploração da força de trabalho, impôs que o operário não poderia crescer como pessoa, estando sempre conformado com sua situação.

   Obviamente, não se pode ignorar que o trabalho é uma forma de educar, pois nele estabelece-se relações sociais, sendo necessário o raciocínio, muitas vezes em grupo, para a resolução de problemas. Porém, quando se observa um operário, pode-se perceber que o mesmo não raciocina, apenas executa sua tarefa sem questioná-la, não interage com seus companheiros, não tem visão crítica de mundo, é um ser alienado.

   Segundo Ramos (2002, p.27), “as potencialidades humanas – físicas, intelectuais e emocionais – foram alienadas do homem e apropriadas pela classe capitalista como mercadoria força de trabalho.” Assim, seria necessário a conscientização da sociedade para o problema da dominação da mesma. Pois o conhecimento é sinônimo de poder, socialmente falando, e a sociedade permanecerá alienada se não tiver conhecimento de sua alienação.

   Ao se analisar a pedagogia tecnicista, que é difundida explicitamente nos cursos técnicos e profissionalizantes, pode-se perceber que há apenas um condicionamento do aluno para responder corretamente à um modelo de problema, não se faz um cidadão consciente de seus direitos e deveres, com autonomia e capacidade de refletir sobre a realialidade em que esta inserido.

   Luckesi (1994, p.61) declara que para a pedagogia tecnicista, “À educação escolar compete organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global.” Assim o indivíduo se adapta ao meio em que está inserido e não desenvolve seu olhar crítico sobre a sociedade, favorecendo as elites, que sempre os dominarão.

   Atualmente, apesar da grande ascensão dos cursos técnicos, o mercado de trabalho exige além de mão de obra qualificada, pessoas com desenvolvimento intelectual, que sejam capazes de prever e resolver problemas, propondo soluções inteligentes, que continuem sua formação ao longo da vida. Esta mudança parcial de perfil da classe trabalhadora se deve aos constantes avanços das tecnologias da informação e comunicação, exigindo maiores habilidades para suprir as necessidades do mercado de trabalho.

   Apesar de haver um progresso no perfil dos prabalhadores, o mesmo só ocorreu por necessidades capitalistas e não visando o progresso das habilidades humanas. Ramos (2002, p.30) confirma esta colocação, defendendo que “ A educação moderna vai-se configurando nos novos confrontos sociais e políticos, ora como um dos instrumentos de conquista de liberdade, da participação e da cidadania, ora como um dos mecanismos para controlar e dosar os graus de liberdade, de civilização, de racionalidade e de submissão suportáveis pelas novas formas de produção industrial e pelas novas relações sociais entre os homens.”

   Desta forma, pode-se perceber que a educação sempre foi norteada por moldes sociais, o que torna a escola refém de modelos socio-econômicos, restrita e excludente. O verdadeiro papel da escola é orientar a formação de pessoas para que as mesmas exerça seu papel na sociedade, e desenvolva seu senso crítico, questionando a mesmas. Quando esse papel estiver acima de interesses econômicos, todos teram oportunidade de ser verdadeiramente cidadãos.


Referências:

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cotez, 1994. - (Coleção magistério 2° grau. Série formação do professor)


RAMOS, Marise Nogueira. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação?. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

<http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/p/pedagogia_da_autonomia> Acessado em: 12 de março de 2013.

<http://passapalavra.info/?p=2589> Acessado em: 12 de março de 2013.

Flávio R. Tambellini, João Jardim. Documentário: Pro dia nascer feliz. Brasil, 2005. 88 min.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A mente não é criação do sobrenatural



Mithen, Steve. A pré-história da mente – Uma busca das origens da arte, da religião e da ciência. Editora Unesp. São Paulo, 2002. Capítulo 11.

O autor Steve Mithen, arqueólogo especialista em arqueologia cognitiva, autor da obra “Depois do gelo”, apresenta no capítulo onze do livro “A pré-história da mente – Uma busca das origens da arte, da religião e da ciência”, como assunto principal a evolução humana com foco na evolução da mente e suas respectivas conseqüências para o desenvolvimento das capacidades intelectuais, no que diz respeito às manifestações primitivas de cultura, religião e ciência. Este capítulo enfoca ainda a mudança da mente do tipo canivete suíço para uma mente com fluidez cognitiva.
Os plesiadapiformes eram um grupo chamado de “primatas arcaicos”, porque não tinha-se a certeza de que eram primatas realmente. Tinham um tipo de mente, ou melhor, um padrão de comportamento, controlado por mecanismos genéticos e não pelo aprendizado. Possuíam a mente do tipo canivete suíço, com conhecimento muito especializado sobre padrões de comportamento. Esse grupo foi o pioneiro no desenvolvimento de um cérebro relativamente grande em comparação ao esperado, pelo tamanho de seu corpo. Com a queda na abundância deste grupo, surgiram dois novos grupos: omomiidas e adapidas. Estes foram chamados inicialmente de “primatas modernos”, pois a pressão seletiva fez com que regras simples de aprendizado facilitassem sua sobrevivência, e ainda possuíam uma inteligência social especializada.
Aconteceu assim, a mudança de mentalidade arcaica, em que o comportamento era uma resposta aos estímulos, para generalizada, onde tinha-se o aprendizado pela experiência. Isto exigiu um cérebro que processasse as informações necessárias para análises simples das estratégias comportamentais, e desta forma uma aquisição de conhecimento pelo aprendizado associativo.
Os Aegyptopithecus tinham o domínio da inteligência geral mais potente e o poder de processamento de informações aumentado. E ainda, o domínio da inteligência social era mais evoluído, graças à vantagem reprodutiva conferida aos seus portadores. O período em que indivíduos espertos escolhiam uma inteligência ainda maior nos seus companheiros (ato chamado de “pressão em espiral”) caracteriza a evolução do cérebro. Neste período a evolução se deparou com a necessidade maior de energia para suprir um cérebro maior e mantê-lo em temperatura adequada, o que ocasionou o término do processo de “pressão em espiral”.
A bipedia e consumo maior de carne foram dois avanços comportamentais importantes. O estresse térmico e os custos energéticos com a locomoção ocasionaram o bipedismo. O bipedismo levou o cérebro a gerenciar o controle muscular da postura e da locomoção, ocasionando uma maior expansão cerebral, além de facilitar as interações sociais cara a cara, a comunicação por expressões faciais, à rapinagem e deixou as mãos “livres”, aumentando a sua destreza na confecção e transporte de instrumentos. A bipedia, o nicho da rapinagem, a disponibilidade de matérias-primas e a competição com outros carnívoros, foram as condições que permitiram a seleção de maiores habilidades intelectuais associadas à fabricação de instrumentos e a atividades naturalistas.
A evolução da linguagem, inicialmente para comunicar apenas informações sociais, foi favorecida pela bipedia, mudanças na respiração, diminuição do tamanho dos dentes, modificação da geometria das mandíbulas e desenvolvimento da musculatura do controle de movimentos finos da língua. Assim, houve uma segunda expansão cerebral influenciada por um amplo léxico e uma série de regras gramaticais. A linguagem, inicialmente, transmitia pequenas informações não sociais à mente. Posteriormente, adquiriu caráter geral, e a consciência passou a gerenciar um banco de dados mental com informações de todos os domínios do comportamento.
A ciência tem como propriedade a criação e teste de hipóteses, o desenvolvimento e uso de ferramentas para resolver problemas e o uso de metáforas. Os humanos arcaicos utilizavam as duas primeiras, porém a ultima não, por falta de fluidez cognitiva. Assim a ciência começou no período arcaico.
As vantagens seletivas durante a evolução da mente oscilaram entre uma inteligência especializada e uma inteligência generalizada. Os chimpanzés e os caçadores-coletores possuem uma correspondência entre suas tecnologias e tarefas de subsistência. Mas a arquitetura cognitiva dessas duas mentes é diferente, a mente humana não foi fruto simplesmente de um aperfeiçoamento da mente dos chimpanzés, mas fruto de uma evolução ocasionada pelas pressões seletivas que ocorreu em etapas, pois um sistema complexo acontece pela alternância entre sistemas especializados e generalizados. Desta forma, a mente humana não é uma criação do sobrenatural, mas um produto da evolução.
Partindo da conclusão de Steven Mithen, de que a mente humana não é fruto do sobrenatural, pode-se afirmar que o autor não leva em consideração uma das ciências não empíricas, que é a religião. O autor poderia aproveitar o assunto do seu livro e confrontar as ideias religiosas com as teorias evolutivas.
Ao afirmar que os dentes dos primeiros bípedes diminuíram pelo consumo aumentado de carne, o autor poderia citar que nesta mesma época surgiu o fogo, sendo a mastigação de carne facilitada pelo seu cozimento.
Uma das vantagens da bipedia, apresentada pelo autor, foi a diminuição da incidência solar sobre o corpo dos ancestrais humanos. Poderia-se argumentar que a bipedia proporcionou ao homem uma facilidade de locomoção maior, tendo o mesmo a oportunidade de se abrigar abaixo das sombras das árvores e em cavernas, para diminuir os efeitos do sol.
O autor traz em sua obra uma gama de informações de outros autores e pesquizadores, utilizando-as com muita sabedoria para sustentar suas opiniões. Além disso, faz conexões com assuntos da atualidade, fazendo com que o leitor entenda o presente a partir do passado.
As figuras e esquemas tem importância fundamental na compreenção do assunto abordado, o autor as utilizam no momento certo, fazendo com que o leitor associe as informações escritas com as informaçoes que a figura e/ou esquema trazem. A linha do tempo que o autor utiliza é brilhante, nela consegue-se perceber o tipo de pensamento pertencente a cada época.
A conexão entre a evolução humana e a origem da religião, da ciência e da arte é muito inteligente da parte do autor. E para sustentar a tese dessas origens o autor associa fatos da evolução, que são observados por uma ótica diferente e sábia.

A difícil tarefa de ensinar

Atualmente o magistério está sendo visto como a profissão dos que 'sobraram', entretanto muitas são as exigências feitas pela população e pelo poder público. É exigido do professor dedicação, qualificação, olhar crítico e criatividade para que seu objetivo maior seja alcançado, a aprendizagem.
O trabalho do professor não termina ao fim do expediente, pois o mesmo é desafiado a criar estratégias para que os alunos aprendam o conteúdo que é ministrado em aula. A heterogeneidade de uma turma dificulta ainda mais a criação de estratégias de ensino, pois cada aluno aprende de um jeito e em um determinado tempo. Desta forma, cabe ao professor buscar um equilíbrio, de modo que sua estratégia de ensino atinja a todos.
Segundo Cortella (2001) “um educador é o que procura realizar as possibilidades que a educação tem de colaborar na conquista de uma realidade social superadora das desigualdades, é um escavar no hoje à procura daquilo que hoje pode ser feito, pensando num amanhã que encontra-se em gestação, que não possui certezas, mas certamente possibilidades”. Desta forma o professor deve ter intrepidez, afim de que suas dificuldades e de seus alunos sejam superadas e os objetivos sejam alcançados, e ainda sensibilidade, para que possa perceber as habilidades que os alunos tem mais que ainda não estão desenvolvidas.
Quando o professor passa a assumir o papel de um estimulador de interesses dos alunos, chamando sua atenção para habilidades que possui e ainda não percebeu, tem ao seu dispor um artifício que pode ser utilizado para a aprendizagem dos conteúdos ministrados em sala de aula. Quando o aluno compartilha as novas habilidades descobertas com seus colegas, há uma troca de saberes, um momento de socialização, um incentivo à busca de novos conhecimentos.
De acordo com Claparède (1954) “a escola deve fazer amar o trabalho. Muitas vezes ensina a detestá-lo criando, em torno das obrigações que impõe associações afetivas desagradáveis. É, pois, indispensável que a escola seja um ambiente de alegria, onde a criança trabalhe com entusiasmo”. Assim, a escola como um todo deve olhar os alunos como pessoas em processo de desenvolvimento e não como seres inacabados. Nesta perspectiva, a escola deve acolher os alunos para facilitar e orientar este processo, ao invés de tratá-los como seres que podem ser programados a responderem como se espera, sem argumentação, questionamentos, inovação.
O ato de fazer alguém descobrir e aprimorar conhecimentos não é uma tarefa fácil, pois a graduação proporciona apenas ferramentas teóricas que podem ser utilizadas. Porém, somente a experiência proporciona ferramentas práticas, onde os professores podem melhorar a cada aula lecionada, basta que os mesmos tenham uma visão crítica do seu trabalho, afim de detectar suas falhas e estratégias que foram bem sucedidas, visando o progresso do seu papel no processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Scaramelli (1931, p. 8-9) “as investigações práticas, no meio imediato, para a solução de problemas da vida real, não trazem despesas á escola. Com pequenos gastos, com a iniciativa e boa vontade, quer dos alunos, quer dos professores, organizam-se, pouco a pouco, pequenos museus, salas-ambientes, pequenos laboratórios, etc. e vai-se caminhando em direção do ideal sonhado”. Portanto, é necessário que a escola crie aberturas para o novo, realizando pequenas ações que podem transformar a visão dos alunos sobre o processo de ensino, tendo como ponto de partida algo obrigatório e sem nenhum sentido e após a realização de metodologias inovadoras, algo prazeroso e que faz parte de sua vida.
Uma excelente estratégia para a compreensão de um determinado fenômeno, é a interdisciplinaridade. Através da mesma podem ser trabalhados conceitos de diferentes áreas de atuação docente, proporcionando a integração de conhecimentos que antes eram vistos isoladamente, o que os tornava sem sentido completo.
Todas as estratégias inovadoras de ensino e apendizagem, inclusive a interdisciplinaridade, implicam planejamento conjunto e integrado da escola, portanto é precisso que a escola como um todo esteja com a mesma linha de pensamento, o mesmo ideal. Caso contrário, as dificuldades enfrentadas serão maiores.
Desta forma o ato de educar não pode ser banalizado, pois requer a ultrapassagem de muitos obstáculos. Para que a aprendizagem seja alcançada é necessário muito esforço e competência da escola, e principalmente dos professores. Diante dos desafios, tem-se que perder o medo de inovar, pois estratégias novas podem ser a chave para a construção do saber.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ambientes virtuais de aprendizagem e e-learning


Um ambiente virtual de aprendizagem é um programa de computador que se executa em um servidor conectado a uma rede, que está projetada para facilitar o acesso a materiais de
 aprendizagem e a comunicação dos estudantes. O processo formativo semipresencial ou a distância.


 

l      O e-learning pode ser associado ao uso de ambientes virtuais em rede, onde os participantes o acessam por meio de um navegador web.
l     Através desta conexão em rede são distribuídos materiais de aprendizagem e realizadas atividades didáticas, além de ser realizada a tutoria e a avaliação da aprendizagem.