segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A mente não é criação do sobrenatural



Mithen, Steve. A pré-história da mente – Uma busca das origens da arte, da religião e da ciência. Editora Unesp. São Paulo, 2002. Capítulo 11.

O autor Steve Mithen, arqueólogo especialista em arqueologia cognitiva, autor da obra “Depois do gelo”, apresenta no capítulo onze do livro “A pré-história da mente – Uma busca das origens da arte, da religião e da ciência”, como assunto principal a evolução humana com foco na evolução da mente e suas respectivas conseqüências para o desenvolvimento das capacidades intelectuais, no que diz respeito às manifestações primitivas de cultura, religião e ciência. Este capítulo enfoca ainda a mudança da mente do tipo canivete suíço para uma mente com fluidez cognitiva.
Os plesiadapiformes eram um grupo chamado de “primatas arcaicos”, porque não tinha-se a certeza de que eram primatas realmente. Tinham um tipo de mente, ou melhor, um padrão de comportamento, controlado por mecanismos genéticos e não pelo aprendizado. Possuíam a mente do tipo canivete suíço, com conhecimento muito especializado sobre padrões de comportamento. Esse grupo foi o pioneiro no desenvolvimento de um cérebro relativamente grande em comparação ao esperado, pelo tamanho de seu corpo. Com a queda na abundância deste grupo, surgiram dois novos grupos: omomiidas e adapidas. Estes foram chamados inicialmente de “primatas modernos”, pois a pressão seletiva fez com que regras simples de aprendizado facilitassem sua sobrevivência, e ainda possuíam uma inteligência social especializada.
Aconteceu assim, a mudança de mentalidade arcaica, em que o comportamento era uma resposta aos estímulos, para generalizada, onde tinha-se o aprendizado pela experiência. Isto exigiu um cérebro que processasse as informações necessárias para análises simples das estratégias comportamentais, e desta forma uma aquisição de conhecimento pelo aprendizado associativo.
Os Aegyptopithecus tinham o domínio da inteligência geral mais potente e o poder de processamento de informações aumentado. E ainda, o domínio da inteligência social era mais evoluído, graças à vantagem reprodutiva conferida aos seus portadores. O período em que indivíduos espertos escolhiam uma inteligência ainda maior nos seus companheiros (ato chamado de “pressão em espiral”) caracteriza a evolução do cérebro. Neste período a evolução se deparou com a necessidade maior de energia para suprir um cérebro maior e mantê-lo em temperatura adequada, o que ocasionou o término do processo de “pressão em espiral”.
A bipedia e consumo maior de carne foram dois avanços comportamentais importantes. O estresse térmico e os custos energéticos com a locomoção ocasionaram o bipedismo. O bipedismo levou o cérebro a gerenciar o controle muscular da postura e da locomoção, ocasionando uma maior expansão cerebral, além de facilitar as interações sociais cara a cara, a comunicação por expressões faciais, à rapinagem e deixou as mãos “livres”, aumentando a sua destreza na confecção e transporte de instrumentos. A bipedia, o nicho da rapinagem, a disponibilidade de matérias-primas e a competição com outros carnívoros, foram as condições que permitiram a seleção de maiores habilidades intelectuais associadas à fabricação de instrumentos e a atividades naturalistas.
A evolução da linguagem, inicialmente para comunicar apenas informações sociais, foi favorecida pela bipedia, mudanças na respiração, diminuição do tamanho dos dentes, modificação da geometria das mandíbulas e desenvolvimento da musculatura do controle de movimentos finos da língua. Assim, houve uma segunda expansão cerebral influenciada por um amplo léxico e uma série de regras gramaticais. A linguagem, inicialmente, transmitia pequenas informações não sociais à mente. Posteriormente, adquiriu caráter geral, e a consciência passou a gerenciar um banco de dados mental com informações de todos os domínios do comportamento.
A ciência tem como propriedade a criação e teste de hipóteses, o desenvolvimento e uso de ferramentas para resolver problemas e o uso de metáforas. Os humanos arcaicos utilizavam as duas primeiras, porém a ultima não, por falta de fluidez cognitiva. Assim a ciência começou no período arcaico.
As vantagens seletivas durante a evolução da mente oscilaram entre uma inteligência especializada e uma inteligência generalizada. Os chimpanzés e os caçadores-coletores possuem uma correspondência entre suas tecnologias e tarefas de subsistência. Mas a arquitetura cognitiva dessas duas mentes é diferente, a mente humana não foi fruto simplesmente de um aperfeiçoamento da mente dos chimpanzés, mas fruto de uma evolução ocasionada pelas pressões seletivas que ocorreu em etapas, pois um sistema complexo acontece pela alternância entre sistemas especializados e generalizados. Desta forma, a mente humana não é uma criação do sobrenatural, mas um produto da evolução.
Partindo da conclusão de Steven Mithen, de que a mente humana não é fruto do sobrenatural, pode-se afirmar que o autor não leva em consideração uma das ciências não empíricas, que é a religião. O autor poderia aproveitar o assunto do seu livro e confrontar as ideias religiosas com as teorias evolutivas.
Ao afirmar que os dentes dos primeiros bípedes diminuíram pelo consumo aumentado de carne, o autor poderia citar que nesta mesma época surgiu o fogo, sendo a mastigação de carne facilitada pelo seu cozimento.
Uma das vantagens da bipedia, apresentada pelo autor, foi a diminuição da incidência solar sobre o corpo dos ancestrais humanos. Poderia-se argumentar que a bipedia proporcionou ao homem uma facilidade de locomoção maior, tendo o mesmo a oportunidade de se abrigar abaixo das sombras das árvores e em cavernas, para diminuir os efeitos do sol.
O autor traz em sua obra uma gama de informações de outros autores e pesquizadores, utilizando-as com muita sabedoria para sustentar suas opiniões. Além disso, faz conexões com assuntos da atualidade, fazendo com que o leitor entenda o presente a partir do passado.
As figuras e esquemas tem importância fundamental na compreenção do assunto abordado, o autor as utilizam no momento certo, fazendo com que o leitor associe as informações escritas com as informaçoes que a figura e/ou esquema trazem. A linha do tempo que o autor utiliza é brilhante, nela consegue-se perceber o tipo de pensamento pertencente a cada época.
A conexão entre a evolução humana e a origem da religião, da ciência e da arte é muito inteligente da parte do autor. E para sustentar a tese dessas origens o autor associa fatos da evolução, que são observados por uma ótica diferente e sábia.

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