Mithen, Steve. A pré-história da mente – Uma busca das origens da
arte, da religião e da ciência. Editora Unesp. São Paulo, 2002.
Capítulo 11.
O autor Steve Mithen, arqueólogo especialista em arqueologia
cognitiva, autor da obra “Depois do gelo”, apresenta no capítulo
onze do livro “A pré-história da mente – Uma busca das origens
da arte, da religião e da ciência”, como assunto principal a
evolução humana com foco na evolução da mente e suas respectivas
conseqüências para o desenvolvimento das capacidades intelectuais,
no que diz respeito às manifestações primitivas de cultura,
religião e ciência. Este capítulo enfoca ainda a mudança da mente
do tipo canivete suíço para uma mente com fluidez cognitiva.
Os plesiadapiformes eram um grupo chamado de “primatas arcaicos”,
porque não tinha-se a certeza de que eram primatas realmente. Tinham
um tipo de mente, ou melhor, um padrão de comportamento, controlado
por mecanismos genéticos e não pelo aprendizado. Possuíam a mente
do tipo canivete suíço, com conhecimento muito especializado sobre
padrões de comportamento. Esse grupo foi o pioneiro no
desenvolvimento de um cérebro relativamente grande em comparação
ao esperado, pelo tamanho de seu corpo. Com a queda na abundância
deste grupo, surgiram dois novos grupos: omomiidas e adapidas. Estes
foram chamados inicialmente de “primatas modernos”, pois a
pressão seletiva fez com que regras simples de aprendizado
facilitassem sua sobrevivência, e ainda possuíam uma inteligência
social especializada.
Aconteceu assim, a mudança de mentalidade arcaica, em que o
comportamento era uma resposta aos estímulos, para generalizada,
onde tinha-se o aprendizado pela experiência. Isto exigiu um cérebro
que processasse as informações necessárias para análises simples
das estratégias comportamentais, e desta forma uma aquisição de
conhecimento pelo aprendizado associativo.
Os Aegyptopithecus tinham o domínio da inteligência geral mais
potente e o poder de processamento de informações aumentado. E
ainda, o domínio da inteligência social era mais evoluído, graças
à vantagem reprodutiva conferida aos seus portadores. O período em
que indivíduos espertos escolhiam uma inteligência ainda maior nos
seus companheiros (ato chamado de “pressão em espiral”)
caracteriza a evolução do cérebro. Neste período a evolução se
deparou com a necessidade maior de energia para suprir um cérebro
maior e mantê-lo em temperatura adequada, o que ocasionou o término
do processo de “pressão em espiral”.
A bipedia e consumo maior de carne foram dois avanços
comportamentais importantes. O estresse térmico e os custos
energéticos com a locomoção ocasionaram o bipedismo. O bipedismo
levou o cérebro a gerenciar o controle muscular da postura e da
locomoção, ocasionando uma maior expansão cerebral, além de
facilitar as interações sociais cara a cara, a comunicação por
expressões faciais, à rapinagem e deixou as mãos “livres”,
aumentando a sua destreza na confecção e transporte de
instrumentos. A bipedia, o nicho da rapinagem, a disponibilidade de
matérias-primas e a competição com outros carnívoros, foram as
condições que permitiram a seleção de maiores habilidades
intelectuais associadas à fabricação de instrumentos e a
atividades naturalistas.
A evolução da linguagem, inicialmente para comunicar apenas
informações sociais, foi favorecida pela bipedia, mudanças na
respiração, diminuição do tamanho dos dentes, modificação da
geometria das mandíbulas e desenvolvimento da musculatura do
controle de movimentos finos da língua. Assim, houve uma segunda
expansão cerebral influenciada por um amplo léxico e uma série de
regras gramaticais. A linguagem, inicialmente, transmitia pequenas
informações não sociais à mente. Posteriormente, adquiriu caráter
geral, e a consciência passou a gerenciar um banco de dados mental
com informações de todos os domínios do comportamento.
A ciência tem como propriedade a criação e teste de hipóteses, o
desenvolvimento e uso de ferramentas para resolver problemas e o uso
de metáforas. Os humanos arcaicos utilizavam as duas primeiras,
porém a ultima não, por falta de fluidez cognitiva. Assim a ciência
começou no período arcaico.
As vantagens seletivas durante a evolução da mente oscilaram entre
uma inteligência especializada e uma inteligência generalizada. Os
chimpanzés e os caçadores-coletores possuem uma correspondência
entre suas tecnologias e tarefas de subsistência. Mas a arquitetura
cognitiva dessas duas mentes é diferente, a mente humana não foi
fruto simplesmente de um aperfeiçoamento da mente dos chimpanzés,
mas fruto de uma evolução ocasionada pelas pressões seletivas que
ocorreu em etapas, pois um sistema complexo acontece pela alternância
entre sistemas especializados e generalizados. Desta forma, a mente
humana não é uma criação do sobrenatural, mas um produto da
evolução.
Partindo da conclusão de Steven Mithen, de que a mente humana não é
fruto do sobrenatural, pode-se afirmar que o autor não leva em
consideração uma das ciências não empíricas, que é a religião.
O autor poderia aproveitar o assunto do seu livro e confrontar as
ideias religiosas com as teorias evolutivas.
Ao afirmar que os dentes dos primeiros bípedes diminuíram pelo
consumo aumentado de carne, o autor poderia citar que nesta mesma
época surgiu o fogo, sendo a mastigação de carne facilitada pelo
seu cozimento.
Uma das vantagens da bipedia, apresentada pelo autor, foi a
diminuição da incidência solar sobre o corpo dos ancestrais
humanos. Poderia-se argumentar que a bipedia proporcionou ao homem
uma facilidade de locomoção maior, tendo o mesmo a oportunidade de
se abrigar abaixo das sombras das árvores e em cavernas, para
diminuir os efeitos do sol.
O autor traz em sua obra uma gama de informações de outros autores
e pesquizadores, utilizando-as com muita sabedoria para sustentar
suas opiniões. Além disso, faz conexões com assuntos da
atualidade, fazendo com que o leitor entenda o presente a partir do
passado.
As figuras e esquemas tem importância fundamental na compreenção
do assunto abordado, o autor as utilizam no momento certo, fazendo
com que o leitor associe as informações escritas com as informaçoes
que a figura e/ou esquema trazem. A linha do tempo que o autor
utiliza é brilhante, nela consegue-se perceber o tipo de pensamento
pertencente a cada época.
A conexão entre a evolução humana e a origem da religião, da
ciência e da arte é muito inteligente da parte do autor. E para
sustentar a tese dessas origens o autor associa fatos da evolução,
que são observados por uma ótica diferente e sábia.