O autor Steve Mithen, arqueólogo
especialista em arqueologia cognitiva, autor da obra “Depois do
gelo”, apresenta no capítulo
onze do livro “A pré-história da mente – Uma busca das origens
da arte, da religião e da ciência”, como assunto principal a
evolução humana com foco na evolução da mente e suas respectivas
conseqüências para o desenvolvimento das capacidades intelectuais,
no que diz respeito às manifestações primitivas de cultura,
religião e ciência. Este capítulo enfoca ainda a mudança da mente
do tipo canivete suíço para uma mente com fluidez cognitiva.
Os plesiadapiformes eram um grupo chamado de “primatas arcaicos”,
porque não tinha-se a certeza de que eram primatas realmente. Tinham
um tipo de mente, ou melhor, um padrão de comportamento, controlado
por mecanismos genéticos e não pelo aprendizado. Possuíam a mente
do tipo canivete suíço, com conhecimento muito especializado sobre
padrões de comportamento. Esse grupo foi o pioneiro no
desenvolvimento de um cérebro relativamente grande em comparação
ao esperado, pelo tamanho de seu corpo. Com a queda na abundância
deste grupo, surgiram dois novos grupos: omomiidas e adapidas. Estes
foram chamados inicialmente de “primatas modernos”, pois a
pressão seletiva fez com que regras simples de aprendizado
facilitassem sua sobrevivência, e ainda possuíam uma inteligência
social especializada.
Figura 1: "primatas arcaicos".
Figura 2: "primatas modernos".
Aconteceu assim, a mudança de mentalidade arcaica, em que o
comportamento era uma resposta aos estímulos, para generalizada,
onde tinha-se o aprendizado pela experiência. Isto exigiu um cérebro
que processasse as informações necessárias para análises simples
das estratégias comportamentais, e desta forma uma aquisição de
conhecimento pelo aprendizado associativo.
Os Aegyptopithecus tinham o domínio da inteligência geral mais
potente e o poder de processamento de informações aumentado. E
ainda, o domínio da inteligência social era mais evoluído, graças
à vantagem reprodutiva conferida aos seus portadores. O período em
que indivíduos espertos escolhiam uma inteligência ainda maior nos
seus companheiros (ato chamado de “pressão em espiral”)
caracteriza a evolução do cérebro. Neste período a evolução se
deparou com a necessidade maior de energia para suprir um cérebro
maior e mantê-lo em temperatura adequada, o que ocasionou o término
do processo de “pressão em espiral”.
Figura 3: Aegyptopithecus.
A bipedia e consumo maior de carne foram dois avanços
comportamentais importantes. O estresse térmico e os custos
energéticos com a locomoção ocasionaram o bipedismo. O bipedismo
levou o cérebro a gerenciar o controle muscular da postura e da
locomoção, ocasionando uma maior expansão cerebral, além de
facilitar as interações sociais cara a cara, a comunicação por
expressões faciais, à rapinagem e deixou as mãos “livres”,
aumentando a sua destreza na confecção e transporte de
instrumentos. A bipedia, o nicho da rapinagem, a disponibilidade de
matérias-primas e a competição com outros carnívoros, foram as
condições que permitiram a seleção de maiores habilidades
intelectuais associadas à fabricação de instrumentos e a
atividades naturalistas.
Figura 4: Homem com a caça.
A evolução da linguagem, inicialmente para comunicar apenas
informações sociais, foi favorecida pela bipedia, mudanças na
respiração, diminuição do tamanho dos dentes, modificação da
geometria das mandíbulas e desenvolvimento da musculatura do
controle de movimentos finos da língua. Assim, houve uma segunda
expansão cerebral influenciada por um amplo léxico e uma série de
regras gramaticais. A linguagem, inicialmente, transmitia pequenas
informações não sociais à mente. Posteriormente, adquiriu caráter
geral, e a consciência passou a gerenciar um banco de dados mental
com informações de todos os domínios do comportamento.
Figura 5: Modificação da geometria das mandíbulas.
A ciência tem como propriedade a criação e teste de hipóteses, o
desenvolvimento e uso de ferramentas para resolver problemas e o uso
de metáforas. Os humanos arcaicos utilizavam as duas primeiras,
porém a ultima não, por falta de fluidez cognitiva. Assim a ciência
começou no período arcaico.
As vantagens seletivas durante a evolução da mente oscilaram entre
uma inteligência especializada e uma inteligência generalizada. Os
chimpanzés e os caçadores-coletores possuem uma correspondência
entre suas tecnologias e tarefas de subsistência. Mas a arquitetura
cognitiva dessas duas mentes é diferente, a mente humana não foi
fruto simplesmente de um aperfeiçoamento da mente dos chimpanzés,
mas fruto de uma evolução ocasionada pelas pressões seletivas que
ocorreu em etapas, pois um sistema complexo acontece pela alternância
entre sistemas especializados e generalizados. Desta forma, a mente
humana não é uma criação do sobrenatural, mas um produto da
evolução.
Figura 6: Oscilação entre a inteligência especializada e a inteligência generalizada.
Obs.: Eu recomendo a leitura deste livro, pois ele é muito interessante.