LUCKESI, C. C. . Filosofia da Educação. 21. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1990. 181p .
Tendências
educacionais e suas distintas formas e consequências de educar
O autor Cipriano Luckes é Doutor em Educação: História, Política,
Sociedade, e escreveu vários livros como: “Avaliação da aprendizagem na escola:
reelaborando conceito e recriando a prática” e “Equívocos teóricos na prática
educativa”. O capítulo dois do livro “Filosofia da educação”, intitulado
“Educação e sociedade: redenção, reprodução e transformação”, trás uma reflexão
a respeito da compreensão da educação e do seu direcionamento dentro da
sociedade. Já o capítulo três, intitulado “Tendências pedagógicas na prática
escolar”, relata as concepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, aborda
as tendências teóricas que visão a compreensão e orientação da prática
educacional ao longo da história humana.
Existem três tendências filosófico-políticas para compreender a Educação,
que se constituíram ao longo da prática educacional. Estas tendências podem ser
compreendidas a partir dos seguintes conceitos: educação como redenção; educação
como reprodutora; e educação como um meio de transformação da sociedade.
A tendência redentora concebe a sociedade como um conjunto de seres
humanos que vivem e sobrevivem em um todo orgânico e harmonioso, com desvios de
grupos e indivíduos que ficam à margem desse todo. Cabe a educação, como
instância social, estabelecer como redentora da sociedade, integrando
harmoniosamente os indivíduos no todo social já existente.
A educação, nesse sentido, tem por significado e finalidade a adaptação
do indivíduo à sociedade. Em vez de receber as interferências da sociedade, é
ela que interfere, quase que de forma absoluta, nos destinos do todo
social,curando-o de suas mazelas.
A tendência reprodutivista afirma que a educação faz, integralmente,
parte da sociedade e a reproduz. Esta tendência é crítica e não se traduz em
uma pedagogia, não estabelecendo um modo de agir para a educação, apenas
demonstra como atua a educação dentro da sociedade e não como ela deve
atuar.
A educação redentora atua na sociedade como uma instância corretora dos
seus desvios, já a educação reprodutivista é um elemento da própria sociedade,
determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos. Assim, o
poder dominante é tão forte na sociedade, que não há possibilidade nenhuma para
a escola de trabalhar pela sua transformação.
A terceira tendência compreende a educação como mediação de um projeto
social, servindo de meio para realizar um projeto de sociedade; projeto que
pode ser conservador ou transformador. Assim, compreende-se a educação dentro
da sociedade, com seus condicionantes e determinantes, mas com a possibilidade
de trabalhar pela sua democratização.
É possível traduzir as tendências redentora e transformadora em pedagogia
liberal e progressista, respectivamente. Estas pedagogias possuem subgrupos de
acordo com suas finalidades sociais. A pedagogia liberal tem como subgrupo:
tradicional, renovada progressista, renovada não-diretiva, e tecnicista. E a
pedagogia progressista possui os subgrupos: libertadora, libertária e
crítico-social dos conteúdos.
A pedagogia liberal é baseada na doutrina liberal, que fundou-se como
justificação do sistema capitalista, defendendo a liberdade e os interesses
individuais da sociedade como predominância, estabelecendo a sociedade de classes.
Assim, a escola deve preparar os indivíduos para o desempenho de papéis
sociais, visto que os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e
às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da
cultura individual.
A tendência liberal tradicional defende a preparação intelectual e moral
dos alunos para assumir sua posição na sociedade. Os conhecimentos e valores
sociais acumulados pelas gerações adultas são os seus conteúdos, repassados ao
aluno como verdade. Estes conteúdos são separados da experiência dos alunos e
das realidades sociais, sendo enciclopédico. O professor tem autoridade sobre
os alunos e é apenas um transmissor de conteúdo.
A tendência liberal renovada progressivista defende que o papel da escola
é adequar as necessidades individuais ao meio social, devendo organizar-se de
forma a retratar a vida. O importante é o processo de aquisição do saber, e não
o saber propriamente dito. Valoriza as tentativas experimentais, a pesquisa, a
descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de
problemas. O desenvolvimento mental tem como condição básica o trabalho em
grupo e o professor tem função de auxiliador do desenvolvimento livre e
espontâneo.
A tendência liberal renovada não-diretiva afirma que o papel da escola é
importante na formação de atitudes, portanto deve estar focada nos problemas
psicológicos, e secundariamente nos problemas pedagógicos e sociais,
estabelecendo um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo. O professor
atua como facilitador tendo em vista uma educação centrada no aluno, visando
formar sua personalidade através da vivência de experiências significativas.
A tendência liberal tecnicista afirma que a escola atua como modeladora
do comportamento humano, através de técnicas específicas. A educação escolar
deve organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos
específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina
do sistema social global. Tendo em vista o desenvolvimento de indivíduos
“competentes” para o mercado de trabalho, a matéria de ensino é o redutível ao
conhecimento observável e mensurável, eliminando-se qualquer sinal de
subjetividade. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade
científica e o aluno.
A pedagogia progressista parte de uma análise crítica das realidades
sociais, sustentando implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.
Portanto, não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista.
A tendência progressista tem como sua marca à atuação “não formal” em vez
do ensino escolar. A educação é uma atividade onde os professores e alunos
atingem um nível de consciência da realidade que apreendem, a fim de nela
atuarem, num sentido de transformação social. A educação libertadora ainda
questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com
os outros homens, visando a uma transformação. O professor tem papel de
animador, que deve “descer” ao nível dos alunos, adaptando-se às suas
características e ao desenvolvimento próprio de cada grupo.
A pedagogia libertária espera que a
escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido
libertário e autogestionário. Tendo um sentido expressamente político, à medida
que se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento
individual somente se realiza no coletivo. Visa "em primeiro lugar”,
transformar a relação professor-aluno no sentido da não-diretividade, isto é,
considerar desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base
de obrigações e “ameaças". Embora professor e aluno sejam diferentes, nada
impede que o professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções e
idéias, sem transformar o aluno em “objeto". O professor é um orientador e
um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum.
Para a tendência progressista “crítico
social dos conteúdos” a escola tem como papel principal a difusão de conteúdos
indissociáveis das realidades sociais. Se a escola é parte integrante do todo
social, agir dentro dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. O
professor é visto como um mediador, e o aluno, com sua experiência imediata num
contexto cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la com os
conteúdos e modelos expressos pelo professor.
Assim, a condição para que a escola
sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a
apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos
alunos. Desta forma, a atuação da escola consiste na preparação do aluno para,
o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da
aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e
ativa na democratização da sociedade. Portanto aprender é desenvolver a capacidade
de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente, organizando os
dados disponíveis da experiência.
Diante do que foi apresentado, cada
profissional da educação deve escolher criticamente qual tendência irá orientar
seu trabalho. Pois a ausência de posicionamento faz com que o profissional seja
refém da opinião de quem se posicionou. A escola não está em uma ilha isolada
da sociedade, portanto sofre influências da mesma. Quando se trata da sociedade
sob regime capitalista, estas influências tem como interesse favorecer o
crescimento econômico através do crescimento do setor produtivo.
Assim é inegável que há influências sociais na educação, porém há
possibilidades de a educação interfira na sociedade ao formar pessoas que não
sejam alienadas. Ou seja, formar cidadãos que tenham olhar crítico sobre a
sociedade e malícia para perceber os interesses que estão por trás das atitudes
das classes dominantes. É impossível atribuir à educação o poder de mudar a
sociedade, pois a escola é direcionada e mantida pelas classes dominantes da
sociedade, sendo uma reprodução do meio em que está inserida. Porém é possível
que cada profissional da educação se posicione para que não forme pessoas com
uma visãi limitada de mundo, sem senso crítico, é preciso tendência liberal
tradicional ampliar o horizonte dos alunos através de uma prática docente
diferenciada.
As várias tendências pedagógicas refletem os vários estágios de
transformação da sociedade. Desde a necessidade de pessoas que não tinham senso
crítico à pessoas que necessitam dominar as ferramentas da sociedade moderna,
portanto a escola sempre supriu as necessiades da sociedade, principalmente do
mercado de trabalho, através da formação de pessoas que apresentavam um modelo
de pensamento e atitudes que a favorecesse. Segundo Frigotto (2003, p. 26),
Na perspectiva das classes dominantes,
historicamente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve
dar-se a fim de habitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho.
Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para
responder às demandas do capital.
Assim, sempre houve interesses econômicos inseridos nos modelos de
educação. Apesar de a sociedade ter mudado, atualmente a maioria dos setores de
ensino seguem o modelo da tendência liberal tradicional, o que é improprio
quando se objetiva o desenvolvimento das potencialidades intelectuais e
psicosociais dos indivíduos. Esta tendência é equivocadamente utilizada por
atribuir poderes ao professor e ver o aluno como um ser inferior, que deve
aceitar todos os conhecimentos transmitidos pelo professor sem questioná-los,
formando pessoas acriticas e sem conhecimentos aprendidos, apenas reproduzidos.
A antipatia pela tendência progressista “crítico social dos conteúdos” se
deve ao fato de que o professor passa a ser um mediador e não alguém que está
acima do aluno. É preciso que os professores percam o medo de se colocar ao
mesmo nível do aluno, sem autoritarismo para exigir que os alunos se adequem ao
seu ponto de vista, a sua visão de mundo. É necessário respeitar as
individualidades de cada aluno, seu tempo de assimilação dos conhecimentos
apresentados, sua opinião. Tendo o professor papel de orientador, visando a
construção do conhecimento norteado por debates, pelo confronto da realidade do
aluno com os conteúdos apresentados, para que o aluno tenha condições de
transformar seu mundo, de ter visão crítica sobre os acontecimentos da
sociedade.
Assim, não se pode mudar a sociedade apenas com a educação, porém a mesma
possui capacidade de formar pessoas que tenham pensamentos e opiniões distintos
do todo social, mudando sua microsociedade, ou seja, o meio que as cerca. Pois
ao sair da escola o aluno terá que enfrentar os desafios impostos pela
sociedade, portanto deverá ser preparado para isso, tendo em vista o papel da
escola de educadora e não apenas de ensinar conteúdos. Desta forma, a escola
tem papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo, preparando-o para a
vida.
Referências
bibliográficas:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=W06411>
Acessado em 10 de Abril de 2013
KUENZER, Acácia Zeneida. Pedagogia da
Fábrica. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LUCKESI, C. C. . Filosofia da Educação. 21. ed. São
Paulo: Cortez Editora, 1990. 181p .
FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação como
campo social de disputa hegemônica. In: Educação do capitalismo real. 5.
Ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 25-40.
EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES,
M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In:
Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.
Autora: Lis Peixoto Rocha.
Espero que gostem.....aguardo comentários!!!