segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resenha do capítulo II e III do livro Filosofia da Educação (Cipriano Luckesi)


LUCKESIC. C. . Filosofia da Educação. 21. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1990. 181p .

Tendências educacionais e suas distintas formas e consequências de educar

O autor Cipriano Luckes é Doutor em Educação: História, Política, Sociedade, e escreveu vários livros como: “Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceito e recriando a prática” e “Equívocos teóricos na prática educativa”. O capítulo dois do livro “Filosofia da educação”, intitulado “Educação e sociedade: redenção, reprodução e transformação”, trás uma reflexão a respeito da compreensão da educação e do seu direcionamento dentro da sociedade. Já o capítulo três, intitulado “Tendências pedagógicas na prática escolar”, relata as concepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, aborda as tendências teóricas que visão a compreensão e orientação da prática educacional ao longo da história humana.
Existem três tendências filosófico-políticas para compreender a Educação, que se constituíram ao longo da prática educacional. Estas tendências podem ser compreendidas a partir dos seguintes conceitos: educação como redenção; educação como reprodutora; e educação como um meio de transformação da sociedade.
A tendência redentora concebe a sociedade como um conjunto de seres humanos que vivem e sobrevivem em um todo orgânico e harmonioso, com desvios de grupos e indivíduos que ficam à margem desse todo. Cabe a educação, como instância social, estabelecer como redentora da sociedade, integrando harmoniosamente os indivíduos no todo social já existente.
A educação, nesse sentido, tem por significado e finalidade a adaptação do indivíduo à sociedade. Em vez de receber as interferências da sociedade, é ela que interfere, quase que de forma absoluta, nos destinos do todo social,curando-o de suas mazelas.
A tendência reprodutivista afirma que a educação faz, integralmente, parte da sociedade e a reproduz. Esta tendência é crítica e não se traduz em uma pedagogia, não estabelecendo um modo de agir para a educação, apenas demonstra como atua a educação dentro da sociedade e não como ela deve atuar. 
A educação redentora atua na sociedade como uma instância corretora dos seus desvios, já a educação reprodutivista é um elemento da própria sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos. Assim, o poder dominante é tão forte na sociedade, que não há possibilidade nenhuma para a escola de trabalhar pela sua transformação.
A terceira tendência compreende a educação como mediação de um projeto social, servindo de meio para realizar um projeto de sociedade; projeto que pode ser conservador ou transformador. Assim, compreende-se a educação dentro da sociedade, com seus condicionantes e determinantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização.
É possível traduzir as tendências redentora e transformadora em pedagogia liberal e progressista, respectivamente. Estas pedagogias possuem subgrupos de acordo com suas finalidades sociais. A pedagogia liberal tem como subgrupo: tradicional, renovada progressista, renovada não-diretiva, e tecnicista. E a pedagogia progressista possui os subgrupos: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos.
A pedagogia liberal é baseada na doutrina liberal, que fundou-se como justificação do sistema capitalista, defendendo a liberdade e os interesses individuais da sociedade como predominância, estabelecendo a sociedade de classes. Assim, a escola deve preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, visto que os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura individual.
A tendência liberal tradicional defende a preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. Os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas são os seus conteúdos, repassados ao aluno como verdade. Estes conteúdos são separados da experiência dos alunos e das realidades sociais, sendo enciclopédico. O professor tem autoridade sobre os alunos e é apenas um transmissor de conteúdo.
A tendência liberal renovada progressivista defende que o papel da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social, devendo organizar-se de forma a retratar a vida. O importante é o processo de aquisição do saber, e não o saber propriamente dito. Valoriza as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas. O desenvolvimento mental tem como condição básica o trabalho em grupo e o professor tem função de auxiliador do desenvolvimento livre e espontâneo.
A tendência liberal renovada não-diretiva afirma que o papel da escola é importante na formação de atitudes, portanto deve estar focada nos problemas psicológicos, e secundariamente nos problemas pedagógicos e sociais, estabelecendo um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo. O professor atua como facilitador tendo em vista uma educação centrada no aluno, visando formar sua personalidade através da vivência de experiências significativas.
A tendência liberal tecnicista afirma que a escola atua como modeladora do comportamento humano, através de técnicas específicas. A educação escolar deve organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. Tendo em vista o desenvolvimento de indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, a matéria de ensino é o redutível ao conhecimento observável e mensurável, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno.
A pedagogia progressista parte de uma análise crítica das realidades sociais, sustentando implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. Portanto, não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista.
A tendência progressista tem como sua marca à atuação “não formal” em vez do ensino escolar. A educação é uma atividade onde os professores e alunos atingem um nível de consciência da realidade que apreendem, a fim de nela atuarem, num sentido de transformação social. A educação libertadora ainda questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação. O professor tem papel de animador, que deve “descer” ao nível dos alunos, adaptando-se às suas características e ao desenvolvimento próprio de cada grupo.
A pedagogia libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. Tendo um sentido expressamente político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo. Visa "em primeiro lugar”, transformar a relação professor-aluno no sentido da não-diretividade, isto é, considerar desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base de obrigações e “ameaças". Embora professor e aluno sejam diferentes, nada impede que o professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções e idéias, sem transformar o aluno em “objeto". O professor é um orientador e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum.
Para a tendência progressista “crítico social dos conteúdos” a escola tem como papel principal a difusão de conteúdos indissociáveis das realidades sociais. Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. O professor é visto como um mediador, e o aluno, com sua experiência imediata num contexto cultural, participa na busca da verdade, ao confrontá-la com os conteúdos e modelos expressos pelo professor.
Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. Desta forma, a atuação da escola consiste na preparação do aluno para, o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Portanto aprender é desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente, organizando os dados disponíveis da experiência.
Diante do que foi apresentado, cada profissional da educação deve escolher criticamente qual tendência irá orientar seu trabalho. Pois a ausência de posicionamento faz com que o profissional seja refém da opinião de quem se posicionou. A escola não está em uma ilha isolada da sociedade, portanto sofre influências da mesma. Quando se trata da sociedade sob regime capitalista, estas influências tem como interesse favorecer o crescimento econômico através do crescimento do setor produtivo.
Assim é inegável que há influências sociais na educação, porém há possibilidades de a educação interfira na sociedade ao formar pessoas que não sejam alienadas. Ou seja, formar cidadãos que tenham olhar crítico sobre a sociedade e malícia para perceber os interesses que estão por trás das atitudes das classes dominantes. É impossível atribuir à educação o poder de mudar a sociedade, pois a escola é direcionada e mantida pelas classes dominantes da sociedade, sendo uma reprodução do meio em que está inserida. Porém é possível que cada profissional da educação se posicione para que não forme pessoas com uma visãi limitada de mundo, sem senso crítico, é preciso tendência liberal tradicional ampliar o horizonte dos alunos através de uma prática docente diferenciada.
As várias tendências pedagógicas refletem os vários estágios de transformação da sociedade. Desde a necessidade de pessoas que não tinham senso crítico à pessoas que necessitam dominar as ferramentas da sociedade moderna, portanto a escola sempre supriu as necessiades da sociedade, principalmente do mercado de trabalho, através da formação de pessoas que apresentavam um modelo de pensamento e atitudes que a favorecesse. Segundo Frigotto (2003, p. 26),
Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital.

Assim, sempre houve interesses econômicos inseridos nos modelos de educação. Apesar de a sociedade ter mudado, atualmente a maioria dos setores de ensino seguem o modelo da tendência liberal tradicional, o que é improprio quando se objetiva o desenvolvimento das potencialidades intelectuais e psicosociais dos indivíduos. Esta tendência é equivocadamente utilizada por atribuir poderes ao professor e ver o aluno como um ser inferior, que deve aceitar todos os conhecimentos transmitidos pelo professor sem questioná-los, formando pessoas acriticas e sem conhecimentos aprendidos, apenas reproduzidos.
A antipatia pela tendência progressista “crítico social dos conteúdos” se deve ao fato de que o professor passa a ser um mediador e não alguém que está acima do aluno. É preciso que os professores percam o medo de se colocar ao mesmo nível do aluno, sem autoritarismo para exigir que os alunos se adequem ao seu ponto de vista, a sua visão de mundo. É necessário respeitar as individualidades de cada aluno, seu tempo de assimilação dos conhecimentos apresentados, sua opinião. Tendo o professor papel de orientador, visando a construção do conhecimento norteado por debates, pelo confronto da realidade do aluno com os conteúdos apresentados, para que o aluno tenha condições de transformar seu mundo, de ter visão crítica sobre os acontecimentos da sociedade.
Assim, não se pode mudar a sociedade apenas com a educação, porém a mesma possui capacidade de formar pessoas que tenham pensamentos e opiniões distintos do todo social, mudando sua microsociedade, ou seja, o meio que as cerca. Pois ao sair da escola o aluno terá que enfrentar os desafios impostos pela sociedade, portanto deverá ser preparado para isso, tendo em vista o papel da escola de educadora e não apenas de ensinar conteúdos. Desta forma, a escola tem papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo, preparando-o para a vida.

Referências bibliográficas:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=W06411> Acessado em 10 de Abril de 2013
KUENZER, Acácia Zeneida. Pedagogia da Fábrica. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LUCKESI, C. C. . Filosofia da Educação. 21. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1990. 181p .
FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação como campo social de disputa hegemônica. In: Educação do capitalismo real. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 25-40.
EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In: Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.

Autora: Lis Peixoto Rocha.
Espero que gostem.....aguardo comentários!!!

Resenha do capítulo II do livro Política educacional (Olinda Evangelista)


EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In: Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.

Intervenções educacionais para favorecer as elites

O capítulo dois, intitulado “Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990”, do livro “Política Educacional”, faz alusão às reformas políticas propostas durante os anos de 1990, com a finalidade de alavancar a economia. O livro foi escrito por Olinda Evangelista, doutora em Educação: História, Política, Sociedade, pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo (1997). A mesma é autora de muitos livros, como “Escola viva”, “Questões de teoria e método em pesquisa educacional” e “Formação de professores: perspectivas educacionais e curriculares”.
Os governantes dos anos de 1990 estruturaram uma contrarevolução nas esferas social, política e ideológica, para recuperar-se da crise dos anos de 1980. A situação nacional poderia ser comparada ao governo Thatcher, na Inglaterra, que denegriu os valores que prevaleciam no país, relacionados às políticas que favoreciam a população. Aconteceram transformações que produziram prejuízos imensos na sociedade britânica, onde o nível de vida é incomparavelmente mais sólido e elevado que no Brasil.
A hegemonia conservadora era evidenciada pela atmosfera política, científica e cultural, em que desqualificava “velhos” ideais e valores, vistos como utopias, não levando em conta a realidade da vida econômica marcada pela concorrência, forças de mercado e desemprego estrutural. Assim, forma-se um consenso segundo o qual é inútil opor-se às mudanças, pois geraria profundas transformações no sentido da população, que rendeu-se a realidade da dura economia.
Este movimento de retração ideológica teve sucesso, ganhando expressão nos jornais sensacionalistas e em instituições sociopolíticas e culturais. Neste contexto, para eliminar eventuais resistências, o poder hegemônico conservadorista utilizou a visão de que o acomodamento político e eleitoral diante às regras do jogo vigente trás virtude e sabedoria.
Fernando Collor implantou o modelo Thatcher no Brasil, não inserindo o país na economia mundial, tendo amargos resultados. Existia uma sintonia entre a exaltação às forças de mercado e suas ressonâncias nas práticas educativas. De fato, com Collor houve um atraso no ajuste da economia brasileira às exigências da economia global.
Deste modo, em muitos setores os produtos nacionais não conseguiram concorrer com os estrangeiros dentro do país. Na busca por vantagens competitivas, alegava-se que ara necessário requisitos distintos de educação geral e qualificação profissional dos trabalhadores. Iniciou-se uma polêmica sobre o processo de utilização dos avanços da tecnologia em todas as esferas, disseminando-se a ideia de que seria necessário dominar os códigos da modernidade.
Atribuiu-se à educação o pilar de sustentação da competitividade nos anos de 1990. Documentações com soluções para os países da América Latina e Caribe, com relação à economia e à educação, influenciaram na definição de políticas públicas para a educação no Brasil.
Este ideário teve início no governo de Itamar Franco com a elaboração do Plano Decenal, mas se concretizou no governo FHC. Numerosas publicações de organismos multilaterais de empresários e intelectuais tornaram estes arautos das reformas que se efetivariam no país.
A conferência mundial de educação para todos aconteceu em 1990, onde foi assinada uma declaração por 155 governadores assegurando educação básica de qualidade para crianças, jovens e adultos.
Havia milhões de crianças fora da escola e adultos analfabetos no mundo. Quando o projeto foi assinado, tinha como meta usar a educação para realizar as necessidades básicas de aprendizagem.
A educação básica passou a englobar, além da educação escolar, a educação familiar, da comunidade e dos meios de comunicação. Foi estabelecido que de acordo com as diferentes necessidades dos alunos, deveriam ser usados diferentes conteúdos, meios e modalidades de ensino e aprendizagem. A educação foi usada para negociações entre diferentes forças políticas e econômicas como forma de promovê-la.
O documento econômico da CEPAL, em 1990, alterou a implementação das mudanças educacionais demandadas pela reestruturação produtiva em curso, onde os países deveriam oferecer os conhecimentos e habilidades específicas requeridas pelo sistema produtivo.
A reforma do sistema produtivo e a difusão de conhecimentos eram vistos como instrumentos cruciais para enfrentar o desafio da construção de uma moderna cidadania e da competitividade. A população deveria aprender os códigos da modernidade, que era o conjunto de conhecimentos e destrezas necessários para participar da vida pública e desenvolver-se produtivamente na sociedade moderna.
O desempenho dos currículos e a eficácia das metodologias aplicadas no processo pedagógico eram avaliados através do domínio dos códigos culturais básicos da modernidade e do desenvolvimento das capacidades humanas para resolver problemas, tomar decisões e seguir aprendendo.
O relatório Delors fez um diagnóstico sobre o atual contexto planetário de interdependência e globalização, no qual reconhece que o ideal de progresso trouxe apenas desilusões à grande parte da população mundial, visto que o desemprego e a exclusão social ocorrem em países ricos, agravando as desigualdades sociais.  
O documento propôs que a tensão entre a vertigem provocada pela mundialização e a necessidade de referências e raízes deveriam ser resolvidas. Neste contexto, a educação teve seus objetivos ampliados e seu potencial superdimensionado. A educação incumbiu-se do desenvolvimento humano sustentável, da compreensão mútua entre os povos, da vivência completa da democracia.
Um novo conceito de educação foi proposto, educação ao longo de toda vida, que explorasse o potencial educativo dos meios de comunicação, da profissão, da cultura e do lazer; construindo uma “sociedade educativa”. Isto seria alcançado a partir do aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver junto.
A educação básica deveria assegurar a base sólida para a aprendizagem futura, já que seria necessário adquirir, atualizar e utilizar os conhecimentos para sobreviver na sociedade da informação ou sociedade cognitiva.
O Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe (PROMEDLAC) conferiu papel central à educação nas novas estratégias de desenvolvimento sustentável, para o crescimento econômico e para a justiça e equidade social.
O Banco Mundial que se constitui como um auxiliar da política externa americana, tendo em vista a existência de um bilhão de pobres no mundo, buscou na educação um sustento para sua política de contenção da pobreza, um “ajuste com caridade”. Havia foco na educação básica, porque através da mesma a pobreza seria reduzida e a produtividade do trabalho dos pobres seria aumentada.
A Carta Educação estabeleceu que devesse haver uma mudança política educacional no Brasil. Buscava-se a adequação dos objetivos educacionais às novas exigências do mercado internacional e interno, e a consolidação do processo de formação do cidadão produtivo.
Durhan, secretária de política educacional do MEC, afirma que as licenciaturas no país estavam falidas, deixando uma enorme lacuna na formação para o magistério. Eram poucas as universidades brasileiras interessadas pela formação de professores, e as que se interessavam, não realizavam a devida integração do conhecimento com o trabalho ensino-aprendizagem.
A Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação sempre defendeu uma formação, sobretudo universitária para os docentes, assegurando a tríplice missão característica desse nível: ensino, pesquisa e extensão. Fica claro então, que a educação continua sendo assunto de Estado, e nenhuma reforma da educação teve êxito contra ou sem professores.
A escola não está em uma ilha isolada da sociedade, portanto sofre influências da mesma. Quando se trata da sociedade sob regime capitalista, estas influências tem como interesse favorecer o crescimento econômico através do crescimento do setor produtivo. 
O interesse do regime capitalista em investir na educação provém da necessidade de suprir a demanda de mão de obra apta a exercer funções na indústria. Assim, a educação sempre foi o campo da disputa hegemônica. Segundo Frigotto (2003, p. 25), “Esta disputa dá-se na perspectiva de articular as concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educativos na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da vida social, aos interesses de classe”.
Ao utilizar-se da educação para diminuir os índices de miséria e analfabetismo, o que a sociedade capitalista pretende é garantir consumidores de seus produtos e serviços, além de trabalhadores que atendam suas expectativas. Fica claro então, a necessidade de movimentação da economia através da exploração do trabalhador e da geração de lucro.
Desta forma, Kuenzer (2002, p. 37) argumenta que “no capitalismo, o trabalhador assalariado é a fonte geradora de mais-valia, e nesse sentido, de reprodução das suas próprias condições de exploração, na medida em que, reproduzindo o capital em escala ampliada, reproduz também o operário”.
Quando elabora-se várias medidas para tornar a educação básica sólida e universal, o que se objetiva é a formação de mão de obra “qualificada”. Assim, o trabalhador é desqualificado intelectualmente, há uma exploração do trabalho humano e sua alienação. Desta forma, segundo Frigotto (2003, p. 26)
Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habitá-los técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder às demandas do capital.

Em nenhum momento se busca o desenvolvimento pessoal e intelectual do indivíduo sem algum interesse lucrativo para a sociedade. A educação sempre foi utilizada para alavancar a economia, tendo em vista a formação de pessoas que suprissem as necessidades da indústria. Não houve preocupação ao longo da história, com o fim da desigualdade social e da miséria, sem objetivações favoráveis às classes mais elevadas.
Assim, segundo Frigotto (2003, p.35),
De forma cada vez mais dissimulada, todavia, o desenvolvimento dos sistemas de ensino solidificaram uma estrutura dualista e segmentada que perdura até o presente, ainda que de forma diferenciada, em contextos específicos nas diferentes formações sociais capitalistas.

Sob a exploração do trabalhador é colocada uma mascara, caracterizando a fábrica como uma grande família feliz. São criadas estratégias para tornar o trabalhador cada vez mais alienado, e segundo Kuenzer (2002, p. 167), “Nesse sentido, elas nada mais são do que formas de manipulação, que tem por objetivo a criação de condições mais favoráveis à explosão, pelo ocultamento das contradições, cuja eclosão é sempre desestabilizadora”.
Pode-se então concluir que é impossível compreender o sistema de ensino de forma isolada, sem analisar o meio em que está inserido, atualmente a sociedade capitalista. Neste contexto, as reformas educacionais tem cunho essencialmente social, que privilegia a burguesia, atenuando a desigualdade social.

Referências bibliográficas:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4790682H7> Acessado em 03 de Abril de 2013

EVANGELISTA, O.; SHIROMA, E. O.; MORAES, M. C. M.. Os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos de 1990. In: Política Educacional. 4. Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 53-86.

KUENZER, Acácia Zeneida. Pedagogia da Fábrica. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.

FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação como campo social de disputa hegemônica. In: Educação do capitalismo real. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 25-40.



Autora: Lis Peixoto Rocha.
Espero que gostem. Aguardo comentários!!!!